Toyepãeh
Criança indígena aprende como funciona o mundo adulto brincando. Almir Suruí, nascido em 1974, cresceu na Lapetanha, aldeia dos suruís localizada a uns 50 quilômetros do centro de Cacoal, em Rondônia. Os suruís são conhecidos como índios cantores e fizeram o primeiro contato com o "homem branco" em 1969.
Ali, na mata ao redor das malocas em que os suruís viviam ainda nos anos 1980, Almir, os irmãos e os primos brincavam de "toyepãeh", palavra em tupi-mondé que significa "brincar de guerra".
"A gente imitava que ia enfrentar a guerra dentro da floresta", lembra. Os meninos andavam na mata com os pais e tios para coletar frutas e caçar animais. E ouviam muitas histórias sobre o "tempo de guerra", quando diferentes grupos indígenas disputavam território.
No "toyepãeh", as crianças se dividiam: uns eram os suruís, outros eram os zorós (outro grupo indígena e grande rival de guerra dos suruís em outras épocas). Almir conta que sempre queria ser suruí –zoró nunca.
As crianças ficavam atentas aos sinais da floresta. O canto de um pássaro, explica Almir, significava que tinha algum estranho por perto. "A gente sabe que a floresta comunica, mas só para quem entende o significado", conclui o indígena.